terça-feira, 17 de setembro de 2013

Gestalt fechada

Lembro daquele dia em que ele chegou no primeiro dia de aula, o aluno bolsista da faculdade que se sentou ao meu lado e ficava me encarando. Meus amigos diziam que ele era a fim de mim e eu dizia que não, que ele era heterossexual e blábláblá.
Batemos papo, se chama Rodrigo, descobrimos que usavamos o mesmo ônibus para voltar para casa e isso nos deixava meia hora conversando sobre a vida na parada. Lembro que bebi muito uma vez e disse ao grupo que eu era gay. Ele foi o único que duvidou.
Numa noite de espera, ele me confessou que era virgem e, desde então, a atração surgiu. Meses depois, ele disse que tinha curiosidades em fazer sexo comigo. Meus hormônios enlouqueceram e propus a ele um encontro. Eu estava cheio de esperanças, ele cheio de medos e disse que eu tinha distorcido o que ele dissera. Eu, que tenho notas boas em análise do discurso.
E aconteceu da segunda vez em que ele me propos um encontro e depois brigou comigo, dizendo que eu tinha a imaginação fértil, e eu mandei ele se tratar. Mas dois dias depois de ignora-lo, voltamos a nos falar.
Arranjei o Phellipe, ele arranjou uma garota que parece vinda de uma quermesse. Deixei o Phellipe. Ele continuou com a garota da quermesse.
Julho, férias. Ele me mandou fotos sem roupa e eu me lembrei de um colega de classe quando desabafei com ele sobre o que eu sentia em relação a Rodrigo:"ele só está brincando contigo. Por isso ele faz essas coisas." Pedi que ele parasse de me enviar fotos, ele não parou. Disse que era falta de respeito, que ele deveria mandar pra garota da quermesse, que ele só queria brincar com a minha cara e decidi ignora-lo.
As aulas recomeçaram, ele me saudou com um sorriso de saudades, e eu com meu silêncio seguido de um olhar digno de vilão de revenge. A cada segundo eu recebia uma mensagem sua perguntando "pq vc ñ fala comigo?" E eu me achava no direito de nao responder.
Então houve um dia em que o professor nos organizou em grupos para realizar um trabalho, e nos sentamos juntos. Ele me mandou uma mensagem. "Obrigado por voltara a falar comigo." Que eu respondi com um "não te gaba." , "Pq me ignoras?" Ele perguntou. "Pq rola muita tensão sexual entre nos, estamos no penúltimo semestre e até o final do curso devemos pelo menos nos beijar." Eu pude ouvir sua risada.
Na semana seguinte, ele me chamou para sair. Bebemos, acabamos num motel, ele não é mais virgem, eu não sou mais curioso com seu corpo nu, nós prometemos seguir isso adiante.

Estragando

Kai e eu na safadeza. Vimos que sexo entre nos segue uma delícia e decidimos continuar nos encontrando clandestinamente. Quando da vontade, nos vemos, tiramos a roupa, transamos feito bichos e depois trocamos mensagens mimimi. 3 anos que não podem ser jogados no lixo, claro que isso ainda ia dar pano pra manga e eu sabia que não era um ponto final, e sim reticências.
Mas, no último encontro, Kai me contou que meu melhor amigo, aquele que falava que o Kai era irritante, chato e que falava muito, convidou o Kai para transar. Na hora, minha expressão mudou, quis bater nesse amigo, cortar amizade e a vontade de fazer sexo sumiu.
Nao sei se ainda querendo me provocar, mas Kai me disse que não dormiu com ele. E me disse que naquele fim de semana iria receber um amigo de outra cidade em casa que viria somente para vê-lo. Senti ciúmes e, dessa vez ele não conseguiu perceber. Ele dizia que meu olhar perdia a vida quando eu sentia ciúmes.
Pensei em quem sou eu para sentir ciúmes? Antes eu era namorado, e hoje eu sou apenas uma tranaa clandestina. Isso não me fez bem... Não posso seguir adiante. Sinto muito..

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Quando ser gay é um saco

Meus amigos estavam reclamando na rodada da cerveja que mulheres sempre buscam uma maneira de se acharem feias, quando são bonitas. Isso é uma verdade! Culpo a quem? A tevê que mostra que a mocinha é magra, siliconada e termina com o homem bonito.
E os gays? Já notaram quantos gays têm numa academia? Acho que até mais do que numa boate. O problema dos gays (não todos, há um 30% que não tem esse problema) não é a baixa autoestima, e sim a síndrome do endeusamento, de buscar a perfeição em si e no outro, é a questão de "quero ser um príncipe para meu príncipe" e depois, com a desculpa de "faço por uma questão de saúde", morrem de tomar bomba e meter o dedo na garganta depois de comer.
E você o convida para beber, e ele não bebe porque o lúpulo engorda.
E você o convida para um churrasco, e ele não pode por causa da dieta.
E você o convida para viver, e ele não pode por causa dessa puta idéia de ser perfeito para os outros.
E eles ainda olham pro lado e apontam pro baixinho, pro gordinho, pro magro demais, pro afeminado, pro que tem cabelo longo, pro(a) travesti,  pro que usa salto alto, pro alto demais, pro que não tem facebook e riem.
Nesse ponto de vista, acho um saco ser gay.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Como num filme

O primeiro bebeu duas cervejas e me beijou no carro, apesar do cabelo hipster, mostrou interesse em mim, interesse esse que passou com efeito da bebida e, as mensagens que eram enviadas a cada dois minutos viraram silêncio. Dizem que quando homens como este desaparecem, é Deus salvando a gente de mais encrenca mas, na verdade, penso que quando esse tipo some, é porque não está com sua psique estável para se envolver e, mais vale um pássaro voando livre do que te atacando como nos filmes de Hitchcock.
O segundo disse que queria algo sério e, apesar de termos fodido apenas uma vez, ele quase levou meu dinheiro. Quando um homem e uma mulher estão saindo, o homem paga as contas por cavalheirismo e a mulher se oferece para dividir pois ela quer ser cordial e vista como uma pessoa ativa na sociedade capitalista. E quando são dois homens? Um faz o truque da galinha com Alzheimer e diz que esqueceu a carteira em casa, e acaba sobrando pro bolso do outro que precisava guardar aquele dinheiro para levar o acompanhante ao drive-in, que fosse, e depois colocar gasolina no carro e sustentar o vício maldito do cigarro. Acho que meu vício é sexo e, por ele não corresponder a isso, achei melhor voar livre, antes de atacá-lo como um dos pássaros de Hitchcock, pois era o que ele estava fazendo com minha carteira.
O terceiro me enrolou julho inteiro, mandou foto do peru, disse que queria meter, chupar, lamber, bater, fistar e gozar. Nos encontramos, bebemos água de coco e eu o beijei, ele retribuiu e depois me empurrou. “Estaria eu com mau-hálito?” perguntou meu subconsciente, lembrando que eu tinha chupado halls minuto antes. Descobri que ele faz terapia, toma remédios pesados, surtava, batia na mãe quando faltava o bendito remédio, tinha namorado ciumento e doentio e, antes que eu fosse apunhalado no chuveiro como no filme de Hitchcock, resolvi fugir.
Cansado dessa merda toda, fui até a casa de Kai. Ele me saudou com um “boa tarde” eu respondi com um beijo, tirando as calças e montando nele. Ele queria pegar as cordas e me amarrar, mas foi quando eu disse a ele “No strings attached” e acabamos metendo como num filme de Sasha Grey.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Café com veneno - da balada



Olha que aviário me meti! Elas, andando feito patas, desequilibradas e desajeitadas com seus saltos altos e fazendo biquinho para o instagram. Eles, todos iguais como se seus corpos fossem pré-fabricados para que andassem feito pombos com seus peitos estufados no uniforme hollister. Entre as patas e os pombos, há o peru, que é pelo que todo esse aviário gira. Ela quer atenção, ele também, e no final a cloaca dos animais trabalha. E a música toca, mas ela só é um pequeno detalhe, já que ninguém vem a festa por causa dela, e sim para essas penas que jogam para o ar, querendo atenção... Vi duas galinhas se acariciando, parecia que estavam catando piolho uma da outra. Como será que elas sentem prazer? Bicando a cloaca uma da outra? Não estou amargo, apenas com a essência de álcool e cigarro nos meus poros. Pra que serve teu perfum sexy 212, que todo mundo usa, se no final tu vais ficar cheirando a bebida, tabaco e suor alheio? A galinha quase voa e toma assento em cima de mim e penso se sou invisível, ou se sou tão radiante quanto aquela moeda de um real esquecida num quarto escuro, desejando que alguém a encontre, que alguém a pegue, deslize entre os dedos e faça planos do tipo economizar ou, até mesmo, passar de mão em mão. O dinheiro não é algo que deve ser guardado para sempre, como diz o evangelho, pois a inflação sobe e a bolsa cai e o Brasil continua fodido, querendo dinheiro para gastar, comprar sexy 212, iphones para colocar fotos com bico de pata no instagram, aqueles uniformes escolares da hollister e no final acabar nessas baladas que mais parecem aviários.

Um pombo me olhou de maneira estranha, não sei se flertando ou analisando pois não estou com sexy 212, nem com iphone e muito menos usando o uniforme hollister. “Qual o problema? Tô cagado, mijado ou perdeu alguma coisa?” minha mente perguntou num tipo de telepatia assertiva. Confesso que tenho nojo de pombos pois dizem que eles transmitem criptococose, toxoplasmose e outra doença que rima com dose. Dose esta que acabei e saí do aviário desejando não mais voltar.

P.s.: Saudades disso aqui.