Fundo do poço

Claro que tive meu momento dark em Rosario.
As aulas já tinham acabado, meus amigos voltado ao Brasil, e eu no apartamento, sozinho, sem sair... Estava triste, queria entender o que tinha acontecido, se eu não era suficiente, onde tinha errado...
Bebia vodca no café da manhã e no jantar, fumava um maço e meio de cigarros ao dia, tomava banho de dois em dois dias, comia dois biscoitos ao dia, a luz do sol me machucava. Queria estar na cama, queria conversar com alguém... Rezava para que algum fantasma aparecesse e eu pudesse ao menos conversar.
Armando se fazia de vítima no Facebook. Deletei antes que meu espírito barraqueiro colasse os prints no perfil dele do facebook. De vez em quando algum amigo me enviava mensagem me dizendo que ele estava postando indiretas no facebook, eu ria. Tinha medo de sair e de encontrá-lo.
Telefonei chorando para meu primo no Brasil. "Calma, você vai ficar bem".
Instalei o grindr, transei com um policial, transei com o vizinho, transei de novo com o vizinho, e transei mais uma vez com o vizinho... Eu vi que éramos um tapa-buraco (nos dois sentidos) emocional um para o outro. Eu, abalado pelo ex, ele, desamparado emocionalmente. Éramos uma bomba perto de explodir, ou de sararmos um ao outro, dependendo do fio que puxássemos...
Convidei um moço para transar, mas não transamos. Nos convertemos em grandes amigos. Saiamos a praia, comíamos em casa.
Pedi ao policial que me recomendasse o telefone de alguém que pudesse pintar a parede de casa, ele me deu o telefone de um moço que, depois da primeira mão de tinta, acabou passando a mão em mim e fomos pra cama. Cinco orgasmos depois ele me drogou que mantivesse segredo pois ele era namorado do policial...Não queria morrer feito uma moça que saiu no noticiario de lá que havia saido com um cara que tinha namorada, e acabou sendo encontrada na estrada, degolada. Desinstalei o grindr, tomei o avião, voltei com muita vontade de não ter ido, com uma lágrima engolida, com vontade de agradecer ao destino que me fez ver que aprendemos muita coisa quando estamos de coração partido, sem dinheiro e com fome... ou com os três juntos.
E finalmente obtive uma resposta! O que eu tinha feito de errado para perder o Armando? Resposta: Não era da minha conta! Que mania horrorosa de querer saber a intimidade dos outros... Não é minha culpa se ele não se sentia feliz com o que eu tinha a oferecer e, dessa forma, voltei a ser solteiro.